Banco Central deve manter prudência diante da instabilidade econômica global, afirma economista da XP
O Banco Central do Brasil precisa seguir com uma postura cuidadosa em meio ao cenário atual de grande incerteza na economia mundial, segundo Caio Megale, economista-chefe da XP. Em evento realizado nesta quinta-feira (24) em Washington, EUA, durante a reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI), Megale participou de um painel com Diogo Guillen, diretor de Política Econômica do BC, e compartilhou suas análises sobre o momento econômico global e suas consequências para o Brasil.
Megale destacou que a mensagem principal transmitida por Guillen e outros formuladores de políticas econômicas em Washington é de cautela diante das incertezas políticas e econômicas globais, especialmente relacionadas às tarifas comerciais impostas pelo governo dos Estados Unidos. Em 2 de abril de 2025, o presidente Donald Trump anunciou tarifas contra mais de 180 países, mas em 9 de abril suspendeu temporariamente essas tarifas recíprocas por 90 dias para abrir espaço a negociações bilaterais. Além disso, Trump mencionou a possibilidade de um “acordo especial” com a China, elevando a volatilidade dos mercados internacionais.
Embora o contexto global seja complexo e imprevisível, Megale ressalta que essa cautela não significa que o ciclo de alta da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom) chegou ao fim. O Brasil ainda enfrenta uma inflação persistente e distante da meta, com expectativas de mercado desancoradas e uma atividade econômica relativamente forte. Por isso, são esperados novos aumentos graduais da Selic, com a projeção da XP apontando para um índice de 15,5% no final de 2025 e 12,5% em 2026.
O economista também observa sinais de desaceleração na economia brasileira, consenso entre os analistas, mas destaca que a intensidade dessa desaceleração ainda é incerta. O diretor do BC, Diogo Guillen, compartilha essa visão, apontando que há indicativos iniciais de moderação no crescimento, porém sem evidências sólidas de uma desaceleração ampla e consolidada.
Outro ponto importante é o impacto das tarifas comerciais globais na inflação e na economia brasileira. Tarifas elevadas podem desacelerar a economia mundial e, consequentemente, afetar o Brasil. Essa influência se manifesta por meio de preços de importação e da taxa de câmbio, que tem demonstrado alta volatilidade recentemente, oscilando entre R$ 5,60 e R$ 6,10 antes de se estabilizar em torno de R$ 5,70. Essa volatilidade acentua a incerteza econômica interna.
Além disso, Megale ressalta o potencial efeito dos novos empréstimos consignados para trabalhadores do setor privado no crescimento do PIB. A XP estima que esses empréstimos podem contribuir com cerca de 0,6 ponto percentual ao crescimento anualizado da economia. Contudo, o BC ainda não inclui esse fator em suas projeções oficiais devido à incerteza sobre o tempo e a magnitude desse impacto, conforme afirmou Guillen.
Diante desse cenário, a principal recomendação é a prudência. A política econômica global aponta para uma necessidade de agir com cautela, monitorando constantemente os efeitos das medidas tarifárias internacionais e avaliando seu impacto sobre a economia brasileira. Megale reforça que a atenção deve permanecer focada em como esses fatores poderão influenciar a trajetória econômica nos próximos meses.
Em resumo, o Banco Central deve manter uma postura cautelosa, equilibrando a necessidade de controlar a inflação com a observação cuidadosa das incertezas globais que influenciam o ambiente doméstico. Essa abordagem é crucial para assegurar a estabilidade econômica e enfrentar os desafios impostos pela volatilidade dos mercados internacionais.
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